acidente nuclear de Goiânia

O acidente nuclear de Goiânia no Brasil

acidente nuclear de GoiâniaO acidente nuclear de Chernobyl foi uma das maiores tragédias do século XX, quando no dia 26 de Abril de 1986 explodiu o reactor número 4 da central nuclear de Chernobyl, próximo da cidade de Pripiat, na ex-União Soviética, actual Ucrânia. No entanto este, apesar de ter sido o mais grave, não foi o único acidente nuclear nas últimas décadas. Vamos hoje conhecer o caso do acidente nuclear de Goiânia no Brasil, que aconteceu apenas um ano depois de Chernobyl.

 

A escala internacional de acidentes nucleares (INES)

escalada INES

O acidente de Chernobyl foi catalogado como sendo de magnitude 7 na escala INES de acidentes nucleares. A International Nuclear Event Scale vai da menos grave à mais grave, de 0 a 7.

Já todos ouviram falar sobre o acidente nuclear de Chernobyl. Este foi um marco no período da Guerra Fria, tal a dimensão do desastre e das suas consequências. E não era caso para menos, o acidente foi tão grave e os danos tão profundos que foi preciso abandonar não só a central nuclear, como toda a cidade de Pripiat.

Hoje em dia a cidade de Pripiat é uma verdadeira cidade fantasma. Mas hoje vamos falar sobre um desastre menos conhecido pelo grande público e que aconteceu apenas um ano depois de Chernobyl: o acidente nuclear de Goiânia no Brasil.

 

Acidente nuclear de Goiânia em 1987

Goiânia

O acidente não aconteceu numa central nuclear como Chernobyl, tendo sido devido a material médico de um hospital abandonado no estado de Goiás, no centro do Brasil.

O Instituto Goiano de Radioterapia foi abandonado em 1985, e no dia 13 de Setembro de 1987 dois homens entraram nas suas instalações e encontraram uma unidade de teleterapia com césio-137 no seu interior, um material que é altamente radioactivo.

goias

Sem saberem o que era exactamente, Roberto dos Santos Alves e Wagner Mota Pereira levaram o aparelho para casa de um deles, a uns 600 metros do centro médico abandonado. Ali desmantelaram-no e extraíram a cápsula de protecção do césio-137.

Os homens tentaram romper a cápsula para extrair o conteúdo, mas inicialmente apenas conseguiram partir a janela de irídio, o que lhe permitiu observar que o material emitia uma intensa luz azul. Após alguns dias venderam o aparelho a um ferro velho local, propriedade de Devair Alves Ferreira, que finalmente conseguiu extrair o metal.

acidente nuclear

Devair Alves Ferreira convidou familiares e amigos para presenciarem o espectáculo e tentou fazer um anel para a esposa com o metal. Todos os que assistiram em casa de Devair ficaram contaminados pelo material radioactivo, havendo até um dos seus irmãos que o utilizou para pintar uma cruz na sua barriga. O metal acabou por ser deitado no solo da fazenda do seu irmão, tendo a sua sobrinha, Leide das Neves Ferreira, estado em contacto directo com ele.

Muitos animais morreram e as pessoas começaram a ficar gravemente doentes e com queimaduras. A esposa de Devair, Gabriela Maria Ferreira, foi a primeira a relacionar as doenças com a presença do estranho metal que emitia luz azul.

No dia 28 de Setembro, duas semanas após a extracção do césio-137, Gabriela foi de autocarro com um dos empregados do ferro velho a um hospital, transportando a fonte radioactiva num saco de plástico. Ali os médicos suspeitaram que o aparelho era perigoso e mantiveram-no isolado. A 29 de Setembro um contador Geiger confirmou a radioactividade do material. Nesse mesmo dia foi emitido um alerta e começou o trabalho de descontaminação do lugar.

 

Pessoas afectadas pelo acidente nuclear de Goiânia

acidente radiologico de goiania

Quatro pessoas morreram devido ao contacto directo com o cesio-137, e estima-se que pelo menos umas 250 terão ficado feridas. As quatro pessoas falecidas foram: Leide das Neves Ferreira, de 6 anos; Gabriela Maria Ferreira, de 38 anos; Israel Baptista dos Santos, de 22 anos e Admilson Alves de Souza, de 18 anos. Todos morreram cerca de um mês após a exposição ao material, entre os dias 18 e 23 de Outubro.

Outras nove pessoas também tiveram contacto directo com o material radioactivo mas sobreviveram ao acidente. Dada a intensidade da radiação, também tiveram de ser examinadas cerca de 112 mil pessoas, das quais 244 apresentavam sintomas de exposição à radioactividade.

 

Responsabilidades e compensações às vítimas

goiás

Os três médicos que abandonaram os instrumentos médicos potencialmente perigosos no Instituto Goiano de Radioterapia foram acusados de homicídio por negligência, mas como o aparelho não estava registado no seu nome não foram declarados culpados. Não obstante, um deles foi forçado a pagar 100 mil reais para o reacondicionamento das instalações abandonadas.

No ano 2000, a Justiça do estado de Goiás ordenou uma compensação às vítimas no valor de 1,3 milhões de reais, para além dos tratamentos médicos e psicológicos que fossem necessários.

O acidente nuclear de Goiânia no Brasil

As consequências deste acidente foram devastadoras para a comunidade, mas apesar disso as vítimas apenas foram compensadas mais de 23 anos depois do sucedido. Apesar de ter sido um acidente de grande magnitude, não teve o mesmo tratamento mediático que Chernobyl. E embora seja verdade que fez muito menos vítimas, e a povoação não foi abandonada, também é certo que a radioactividade foi quase tão intensa como a emitida em Chernobyl.

Este acidente foi de facto impressionante, mas muitos de nós nunca ouvimos falar dele. Já tinhas alguma vez ouvido falar do acidente radioactivo de Goiânia?

33

Um Comentário

  1. valmi cavalcante

Deixe aqui o seu comentário


Subscrever grátis

Subscreve a nossa lista de email e recebe artigos interessantes e actualizações comodamente na tua caixa de email.

Obrigado por nos subscrever.

Algo não correu bem...