A história dos czares da Rússia começou, tristemente, por um dos seus mais obscuros episódios, o reinado de terror e crueldade perpetrado por Ivan IV, também conhecido como O Terrível. Embora se saiba que quando jovem já teria dados sinais de crueldade, lançando animais a partir do alto das muralhas do Kremlin ou o posterior assassinato de alguns inimigos, isso nada foi em comparação com o que viria depois…
Durante a época em que os descobridores portugueses partiam à descoberta de novos mundos, a Rússia avançava para uma era de terror sem precedentes. Tal como o ouro propiciava a prosperidade no ocidente, o mercúrio mergulhava a isolada Rússia num dos seus piores episódios históricos.
Diz-se que Ivan Vasilievich, filho de Basílio III, nasceu com dois dentes, embora tenha demorado quase cinquenta anos a desenvolver toda a dentição. Dada esta condição, chegou-se a dizer que um dos seus dentes destruiria o canato de Kazan e que o outro iria destruir os próprios russos (e ambas as profecias se cumpriram).
Embora durante a sua vida tivesse oportunidade para acumular um ódio enorme, sobretudo contra os Boiardos (a nobreza russa), responsáveis pelo envenenamento da sua mãe, o que marcou o seu reinado foi a mesma loucura em forma de surtos de crueldade, euforia e terríveis depressões. Foi mesmo responsável pela morte do próprio filho, Ivan Ivanovich, que matou com uma bastonada na cabeça, num dos seus frequentes acessos de fúria.
No seu último dia de vida, Ivan estava invulgarmente lúcido, levantou-se cedo, tomou o pequeno-almoço e após conversar um pouco com os criados, dispôs-se a jogar uma partida de xadrez. Mas antes de conseguir mover a primeira pedra, teve uma convulsão e caiu no chão, morrendo.
Hoje em dia podemos dar uma explicação médica e química sobre o comportamento do primeiro czar da Rússia e falar de uma doença mental provocada pela intoxicação por mercúrio. Quando pegaram no crânio do czar para fazer uma reconstrução facial, os cientistas encontraram as inconfundíveis marcas provocadas pela sífilis nos ossos. O tratamento para esta doença no século XVI apenas consistia em tomar grandes quantidades de mercúrio, o que provocou graves danos no cérebro e predisposição para alterações violentas no carácter, assim como depressão e acessos de fúria.